"Pôr areia nas latinha pá pesar..."

As festas na casa do Anderson eram nossa alegria, e isso nem é só pelo fato de que a gente podia comer um churrasco e correr subindo e descendo aquelas escadas, desde sempre avoadão, esconde - esconde dando a volta no quarteirão, o Lauzane era pequeno demais pras nossas aventuras. Mas não era só isso.
Quando tinha festa, enchia várias sacolas do Bergamini com lata vazia, e a malandragem se realçava quando a gente botava areia dentro das latas antes de amassar, assim elas pesavam mais, e dava mais dinheiro no ferro - velho. O mesmo era com o papelão, papelão molhado pesa mais, então no meio do monte de papelão que a gente ia pegar no mercado em dia de reposição de estoque, a gente molhava vários e tirava umas moedas a mais.
É, o que um muleque não faz por 2 ou 3 fichas a mais no fliperama? Por cola de madeira pra fazer cortante; ou por um bute pra jogar bola, e não arrancar mais o tampão do dedão no asfalto.
Lembro da época que a gente até descolava uns bute, mas, tinha que tomar cuidado porque era o mesmo bute que ia usar nas festas, é, daquelas que rolavam na casa do Anderson.

"Sem dinheiro, aprendi a enxarcar os papelão"
E foi assim que surgiu essa foto, pois me virei pra aprender a editar vídeos, fucei nos programas e hoje tenho esse encargo dentro da Na Humilde.
(Foto da gravação do vídeo "Véia" - assista no youtube)
Somente quem entende o que é perder algo tão importante, não se sente amedrontado pela minha feição nessa imagem. As vezes eu mesmo me assusto, enxergo um cara que naquele momento não sabe nem o motivo de ainda estar ali, um estranho em meio a tudo e todos, mas a vida é um freestyle, a gente improvisa a todo o tempo...
e nesse momento eu enxergo no fundo do meu olhar naquela foto que:
Sem dinheiro eu aprendi a enxarcar os papelão... e cada rap que eu faço hoje, é uma festa na casa do Anderson, pois, minhas rimas são como um monte de sacolas cheias de latinha que vão me render algumas fichas a mais no fliperama... saka?

A rua é Nóiz.